09 outubro 2015

A DOR DE UM ANJO

Por Walter Júnior

Quando eu ainda era apenas uma substância, indefesa e sem forma, sofri as dores da rejeição. Tentava imaginar qual havia sido o meu erro, o meu pecado, pois ainda tão pequeno já estava sendo julgado e condenado, sem nenhum tipo de defesa.

Aqueles que foram escolhidos para me defender, eram os mesmos que tramavam minha morte. Eu fui culpado de um crime que não cometi. Não pude me defender.

Lembro-me bem como tudo aconteceu.

Não posso dizer que estava tudo bem, pois me sentia indesejado naquele lugar tão macio e aconchegante. Todas as noites eu podia ouvir um choro incontrolado, mas ao mesmo tempo baixinho. 
Aquilo me assustava e eu não podia fazer nada, apenas procurava dormir.

Os dias foram se passando, eu já estava tomando forma. Não via a hora de ver o rostinho da minha mamãe, sentir o seu cheiro e dormir em seu colo, mas para isso, eu precisava crescer e ficar bem forte para que ela quando me visse, pudesse se orgulhar de mim.

Um dia, eu estava brincando com meus pesinhos que tinham acabado de se formar e percebi que a mamãe estava bebendo alguma coisa. Eu estava ansioso para sentir o gosto daquela bebida, pois a cada dia eu aprendia novos sons e novos sabores.

Quando o liquido chegou até mim, não sei o que aconteceu, mas comecei a sentir uma dor muito forte no meu coraçãozinho, o que será que a mamãe tomou? Está doendo muito.

Eu queria gritar por socorro, mas não sabia como, apenas me sentia cada vez mais fraquinho e aquela dor me consumia.

Acordei e já não estava mais no ventre da minha mamãe, olhei para mim e vi que meu corpinho já estava todo formado. Não sei por quanto tempo eu dormi, pois pelo visto eu já nasci, mas, onde está minha mamãe?

Foi quando vi um homem de asas se aproximando de mim, ele me pegou em seus braços e senti uma grande paz. Ele, enfim, me explicou tudo o que havia acontecido e, então, entendi que minha mamãe não queria que eu nascesse, ela me rejeitou ainda no seu ventre. Naquela hora fiquei tão triste, as lágrimas rolavam em meu rosto, não queria ser um peso para minha mamãe, eu apenas queria ser amado.

Um dia, espero que ela entenda que todas as crianças que são concebidas, independentemente do modo que aconteça, não merecem pagar com a própria vida pelo erro de outrem.


Sei que sou apenas um entre milhares que viveram a dor da rejeição, todavia, espero que minha história possa fazer qualquer mulher que pense em tirar a vida de um pequeno anjo, possa refletir e aceitar a dádiva de ser escolhida para cuidar do maior tesouro que alguém pode ter, um filho.

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Agradeço todos os elogios assim como também as críticas, espero crescer a cada dia na escrita e no modo de utilizar as palavras, para que sempre que algum leitor deparar-se com aquilo que escrevo, sinta-se a vontade e confortável para ler.