Trovas de Pensamentos

Houveram risos e prantos, houveram preces aos santos. Promessas pagas de joelhos ao padrinho de Juazeiro, mas, de volta ao meu sertão, rosto empoeirado da estrada, medonha rouquidão dos benditos entoados e os lombos quebrados do pau-de-arara enraivado. Nada disso maltratava tanto quanto a dor que meu peito reservava. Sua foto na capela de promessas, pro ano voltarei agradecido pela graça alcançada de ter me tornado seu marido. 

Que Deus, o padim Ciço Romão e a Mãe das Dores assim queiram, que essa sua enfermidade, minha rosinha, seja só temeridade, mas que logo se alevante dessa cama e corra pelo terreiro como fazia todo fim de tarde, para me dar aquele abraço e aquele cheiro, com seu perfume de lua cheia.

Não vejo a hora de chegar, tenho fé que já está curada, faltam meia légua para matar a saudade da Rosa de minha mocidade.

Faltam só meia légua, meu coração pula de felicidade, o mato vai correndo na beira da passagem, de longe vejo a varanda alumiada pelo sol a pino. No céu os urubus ficam gracejando, só não entendo o porquê de ter tanta gente ali perto agourando. O caminhão nem parou e já pulei agoniado, corri feito teiú lapiando a bolsa que vinha a tira-colo.

Minha mãe me agarrou pelo braço, os zói pareciam um açude no inverno. Meu peito apertou mas não podia acreditar, ninguém pode me segurar até com meus olhos presenciar aquela a quem amo, gélida naquele lugar.

"Acorde, rosinha, pelo amor de Deus". Sacudi seu corpo em meu abraço, fria como a noite estava sua pele, a vida já não lhe visitava. Perdi meu amor, misericórdia meu padim.

Naquela mesma tarde na trazeira duma carroça, colocaram o corpo da mulher que tanto amei. Fomos em silêncio que nem um pássaro piava, nem o vento assoviava, todos estavam de luto e eu, arrasado.

Adepois daquele dia me perdi pelo mundo de meu Deus, nada de errado eu fiz, pelo resto da vida tangi a rês. Não quis outro xamego, pois o meu dengo era teu, somente.

Logo chegará o dia que a sombra da vida chegará e escurecerá minha vista, me fazendo enxergar no fim do túnel uma única luz e você a me esperar.

Walter Júnior